66 x 78 x 65 cm
Descrição Geral
Poltrona destinada a ambientes de estar domésticos ou corporativos. Poltrona leve, de pequenas dimensões e por isso adequada aos pequenos espaços sem, entretanto, abrir mão de grande conforto.
A antiguidade da poltrona no repertório de móveis das mais diversas culturas materiais torna a tarefa de conceituá-la irritante pela aparente inutilidade do esforço. Mas é sempre proveitoso voltar aos conceitos; eles nos ajudam a corrigir rumos e a depurar práticas. Todos sabem o que é uma poltrona mas, conceitualmente, o que deveria ser uma poltrona? Melhor dizendo, o que deveria ser uma poltrona nos dias atuais?
Para começar, uma poltrona é um assento de estar, então tem de ser confortável; se possível, deve ter braços para aumentar o conforto. Isto leva este móvel a ser maior que uma cadeira mas uma poltrona contemporânea não pode ocupar muito espaço nas residências. E tem de ser leve, que ninguém gosta de carregar peso. Em nome da sustentabilidade, uma poltrona não deve ser descartável então, se ela não deve sair da moda, melhor nela não entrar. E também tem de poder “mudar de cara”, que hoje as pessoas enjoam muito rapidamente e tudo fica velho muito depressa – nossos tempos não gostam de nada velho. No desenho de uma poltrona, a mistura do novo e da tradição costuma ser um caminho seguro em se objetivando a perenidade do produto. Uma poltrona não deve ser muito barata a ponto de promover seu menosprezo nem tão cara a ponto de se torná-la inacessível. E, caso se pretenda vender esta poltrona fora do Brasil, ela deve ter marcenaria. Não a marcenaria nórdica ou italiana, de mirabolantes tecnologias, mas a singela marcenaria fina que teve seu apogeu no desenho dos móveis brasileiros modernos das décadas de 1940, 1950 e 1960 e é tão procurada pelos estrangeiros
Foi tudo isto que persegui ao desenhar a poltrona Gaudí. Desenvolvi seu protótipo em peroba do campo oriunda de demolição; queria uma bela madeira nesta primeira peça da qual não pretendo me desfazer. Na produção seriada deverá ser feita em eucalipto.
O design de mobiliário de nossos tempos está irremediavelmente permeado pela descartabilidade, que não arrefece mesmo diante de todos os esforços na busca de um rumo mais sustentável para a produção humana. Esta característica não é exclusiva do ambiente do design de móveis, ela perpassa todo o espectro produtivo associado à criatividade; num mundo que gira cada vez mais rápido, as ideias se tornam velhas rapidamente e são, por isso, descartadas.
Tentar contornar este deletério efeito colateral da contemporaneidade dentro do ambiente específico do design de mobiliário torna-se, então, meta a ser alcançada por todo e qualquer designer.
No caso específico dos assentos, o velho estofamento revela-se como tática adequada a estes esquisitos e contemporâneos tempos de desperdício; ele permite a renovação visual do móvel com a simples troca do tecido de revestimento, assim como nos renovamos ao mudar de roupas todos os dias.
Três condicionantes nortearam o desenho desta pequena poltrona: o apreço pelos frutos do modernismo no design de mobiliário brasileiro, notadamente nas décadas de 1950 e 1960, o encantamento com os desenhos realizados por Antoni Gaudí no projeto de móveis no início do séc. XX e, principalmente, a fascinação pela madeira e o gosto pela marcenaria fina. Este último aspecto levou-me a prototipar esta poltrona em peroba do campo oriunda de demolição – queria uma bela madeira nesta primeira peça da qual não pretendo me desfazer. Por mais adequado que seja, este caminho, o de reciclar na marcenaria o lixo da carpintaria, tem os dias contados. – o estoque deste lixo precioso é limitado e a marcenaria o disputa com a construção civil de luxo, notoriamente perdulária no esbanjamento de recursos naturais. Assim sendo, quando entrar em produção seriada, a poltrona Gaudí deverá ser produzida, infelizmente, em eucalipto.
Processo de Fabricação
Na estrutura aparente, as técnicas básicas da marcenaria tradicional, como encaixes em respigas, recortes em serra de fita com acabamento em tupia de bancada e lixa. Na estrutura da concha, as mesmas técnicas porém aplicadas ao compensado multilaminado, que em seguida recebe estofamento com base em espuma de poliuretano para estofamento com densidade 33, sub capa de lã acrílica e revestimento de tecido. Depois de estofada, a concha é unida à estrutura dos braços por meio de parafusos auto atarrachantes.
Materiais:
Madeira in natura, no caso deste protótipo, peroba do campo, compensado multilaminado, espuma de estofamento, lã acrílica, verniz “asa de barata” e parafusos. No protótipo aqui apresentado, verniz “asa de barata” nas partes de madeira, que deverá ser substituído pelo verniz à base de poliuretano na versão de produção seriada.
Fotografia: Daniel Mansur